sexta-feira, 27 de maio de 2016

A palavra como fonte



DUREZA NO CORAÇÃO


Em uma das mais espetaculares narrativas do Novo Testamento, o evangelista Marcos conta à humanidade que o Nazareno apareceu aos 11 discípulos, todavia, antes de determinar o anúncio do evangelho, repreende-os pela falta de fé e pela dureza do coração por não terem acreditado naqueles que o tinham o visto ressuscitado. Na verdade, não deram a menor credibilidade aos testemunhos de uma mulher e de dois deles que, por sinal, eram os mais simples e sem instrução do grupo.

Em ambos os casos, o contato com os discípulos foi decepcionante, pois a boa nova não pareceu suficiente para arrancá-los da tristeza e do pranto, e fazê-los abrir-se para a fé. Pelo contrário, continuaram incrédulos. Talvez não tenham sido capazes de superar o preconceito contra as pessoas do sexo feminino e, também, de classe inferior, cujos testemunhos, naquela época, não eram aceitos, não valiam nada. A propósito, não se dava credibilidade às palavras de uma mulher ou de pessoas muito pobres.

Embora os discípulos tivessem vivido com Jesus nos seus últimos anos de vida, eles não puderam alcançar a dimensão de tudo o que haviam visto e ouvido do seu Mestre, mas gozavam da alegria da sua presença, pois ele era a luz dos olhos daqueles homens, era o caminho seguro por onde caminhavam, era a fonte de água viva onde eles saciavam a sede, era o pão vivo que os alimentava o espírito.

Porém, no primeiro momento sem o mestre, reinou o preconceito, quem sabe até motivado pelo medo e a dureza de seus corações cegou-lhes a alma que é a principal característica de quem tem espiritualidade baixa.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Voltando




VENTRE DE OSTRA



Tem mulheres que são iguais aos homens, não dizem nada.”


Escutei a frase em referência na última sexta-feira, 18 de março de 2016, no decorrer da apresentação do monólogo poético VENTRE DE OSTRA no Teatro de Cultura Popular da Fundação José Augusto, interpretado de forma magnífica pela atriz Luana Vencerlau, sob a direção de Junior Dalberto.

Por abordar o universo feminino em sua magnitude através da delicadeza, dos sentimentos, anseios, sonhos, decepções e lutas, o monólogo mergulha o expectador no ventre de todas as mulheres, principalmente daquelas que foram fruto de conquistas, cujo a ostra, de forma comezinha, serve a quem não deveria.

Ora, se serve a quem não deveria é porque a ostra virou moeda de troca e quando isto ocorre, fica tão desvalorizada que o seu valor é insignificante, não sendo suficiente sequer para comprar, ao menos, uma libra de carne do coração de alguém.

Tanto é verdade que o ventre, a sua ostra e o coadjuvante, estão longe de ser um par de protagonistas que produzam um espetáculo de primeira grandeza e limitam-se apenas à ilusão de um amor eterno, cuja estabilidade, sem maiores turbulências, pode ser perdida a um só instante.

As poucas mulheres que são iguais aos homens, continuam sem dizer nada, principalmente quanto ao lugar que ocupam ou vão deixando de ocupar na vida de outras pessoas.


Fragmentos do texto LAÇÕS DE FAMÍLIA de Carmen Vasconcelos