terça-feira, 25 de outubro de 2011

Pois tudo o que ofereço é, meu calor, meu endereço


Amor, Meu Grande Amor

(Ângela RO RO)



Amor, meu grande amor
Não chegue na hora marcada
Assim como as canções
Como as paixões
E as palavras...


Me veja nos seus olhos
Na minha cara lavada
Me venha sem saber
Se sou fogo
Ou se sou água...


Amor, meu grande amor
Me chegue assim
Bem de repente
Sem nome ou sobrenome
Sem sentir
O que não sente...


Pois tudo o que ofereço
É, meu calor, meu endereço
A vida do teu filho
Desde o fim, até o começo...


Amor, meu grande amor
Só dure o tempo que mereça
E quando me quiser
Que seja de qualquer maneira...


Enquanto me tiver
Que eu seja
O último e o primeiro
E quando eu te encontrar
Meu grande amor
Me reconheça...


Pois tudo que ofereço
É, meu calor, meu endereço
A vida do teu filho
Desde o fim até o começo...

Amor, meu grande amor
Que eu seja
O último e o primeiro
E quando eu te encontrar
Meu grande amor
Por favor, me reconheça...


Pois tudo que ofereço
É, meu calor, meu endereço
A vida do teu filho
Desde o fim até o começo

quarta-feira, 19 de outubro de 2011


I GET A KICK OUT OF YOU ….
(Tenho tesão por você)




Em recente resenha na Folha de São Paulo, Ruy Castro, comenta o livro
LADY BLUE EYES, de Barbara Sinatra, que por 22 anos não apenas falou com Frank Sinatra, mas jantou, dormiu, transou, acordou, tomou café da manhã, assistiu a todos os seus shows e, diariamente escutava ele dizer em seu ouvido "I get a kick out of you..." ["Tenho tesão por você..."]. Demais não ?

É verdade que, para isso, Barbara Blakeley, depois de dois casamentos que não valeram nada, teve de se tornar Barbara Sinatra, o que aconteceu em 1976 e durou até a morte do cantor, em 1998. O resultado dessa convivência está no livro "Lady Blue Eyes - My Life with Frank", sendo o título uma referência a um dos apelidos de Frank, "Old Blue Eyes" (velho olhos azuis). Não é um marco da literatura nem do jornalismo novo ou velho. É uma memória e, como todas as memórias, só recorda o que lhe convém, mas contém revelações que Gay Talese, o biógrafo autorizado de Sinatra, com toda a sua prosopopeia engomada, nunca poderia suspeitar.

O pai de Sinatra, Marty, siciliano, não falava inglês, Sinatra servia-lhe de intérprete, e os dois se adoravam. Em compensação, Sinatra tinha medo da mãe Dolly, que morreu num acidente de avião quando ele tinha 61, que em sua frente voltava a ser o menino de Hoboken que ela espancava dia sim, dia não.

Sinatra gostava de cozinhar e, segundo Barbara, fazia isso muito bem, mas só macarrão, que comia todos os dias. Gostava de trocar receitas de temperos e de cozinhar para as visitas às 4h da manhã. Quando ia a restaurantes de amigos, metia-se pela cozinha e dava palpite no conteúdo das panelas. Estranho, sendo ele italiano, é que detestasse alho. Gostava também de pintar, embora esse fosse um hobby intermitente, não era como Tony Bennett, que fez da pintura sua segunda forma de expressão.

Com todo seu poder, Sinatra não tinha liberdade de movimentos. Ia muito a restaurantes, mas só podia entrar ou sair deles pela porta dos fundos, passando pela cozinha. Quando era hora de ir embora, um ou mais carros o esperava na saída traseira, já com o motor ligado. Garçons e maîtres levavam gordas gorjetas para não avisar a repórteres ou paparazzi que ele estava no recinto.

Segundo Barbara, nunca houve homem mais gentil. Na sua presença, nenhuma mulher acendeu um cigarro, abriu a porta de um carro ou vestiu um casaco sem ajuda. Mas era também um homem que passava uma "sensação de perigo", sujeito a súbitas explosões de violência-, o que, para ela, era um dos componentes de seu inacreditável charme.

Sinatra era grande leitor, diz Barbara: literatura, história dos EUA, política, artes plásticas e biografias. Vivia recomendando livros ou presenteando amigos com eles.

Seu interesse em muitas disciplinas tornava-o um craque em palavras cruzadas, que fazia todo dia, sempre as mais difíceis, e diretamente a tinta.
 
Em sua fortaleza no deserto, em Palm Springs, Sinatra tinha uma coleção de trenzinhos de brinquedo que tomava um quarto inteiro, quilômetros de trilhos atravessando túneis e estações, do chão ao teto, e mais de 200 composições de máquinas e vagões de todos os estilos, origens e épocas, que ele manobrava com controle remoto. Na porta do aposento, uma placa dizia: "Aquele que morre com mais brinquedos ganha".

Sinatra nunca deixou escapar, mas Barbara achava que ele tinha a ambição de ser embaixador dos EUA na Itália. De Franklin Roosevelt a George W. Bush, foi amigo de todos os presidentes americanos, mas nenhum cogitou seu nome para o cargo. Talvez por conta das pessoas estranhas ("homens de cara feia e ternos mal cortados", escreveu Barbara) que às vezes entravam em sua vida e pareciam justificar as acusações de ligações com a máfia.

Fumou a vida inteira (Camel sem filtro) e, dos 30 anos até pouco antes de sua morte, aos 83, pode ter tomado uma garrafa do bourbon Jack Daniel's por dia. Mas não há registro de problemas vocais crônicos em sua história, nem de certos efeitos típicos do alcoolismo. Mesmo seus episódios de violência independiam da quantidade de álcool no tanque. E seis horas de sono bastavam para refazê-lo e deixá-lo pronto para mais um dia.

Sinatra perdeu cabelo muito cedo, e suas perucas eram fabricadas por Joe Paris, peruqueiro de Nova York. Mas nunca as usava em casa, nem mesmo diante de visitas, e não se importava de que amigos o fotografassem sem elas.
Não se permitia ser anunciado ao entrar no palco. "Se até hoje não sabem quem eu sou, não estariam aqui", dizia. O show para 175 mil pessoas no Maracanã, em janeiro de 1980, foi, segundo Barbara, sua apresentação mais inesquecível, e olhe que ele cantou diante da Acrópole (Atenas), do Coliseu (Roma) e da Grande Pirâmide de Gizé (Egito), além de todos os night clubs importantes de EUA, Europa e Japão.

Senhor de todo o cancioneiro americano, o qual, em grande parte, foi estabelecido por ele, Sinatra só cantava "My Way" e "Strangers in the Night" porque o público exigia (achava "muito óbvias" as duas canções). Em suas últimas apresentações, já beirando os 80 (e embora com todo o equipamento vocal em dia), ele se despedia da plateia dizendo: "Obrigado por me deixarem cantar para vocês".

O derradeiro show foi no dia 25 de fevereiro de 1995, no hotel Marriott de Palm Springs, para um concerto beneficente. Morreu três anos depois, em 14 de maio de 1998.

"Lady Blue Eyes" é apenas uma simpática memória afetiva. Barbara consegue escrever quase 400 páginas sem citar as duas filhas de Sinatra, Nancy e Tina, que ele adorava e com quem ela nunca se deu bem, sinal de que nem tudo foram dias de vinho e rosas entre ela e Frank. Ela impediu os podres de aflorar. Mas isso é tarefa para biógrafos, não para viúvas.

domingo, 9 de outubro de 2011

LAGOA SECA

Quando ele era pequeno, a forma mais modesta de consumo de cultura era ficar em casa e assistir à televisão. Todas as outras formas de arte eram refinadas e totalmente fora das condições financeiras daquela família.
Fazer um esforço para sair de casa em direção a um templo de cultura era prova de quem tinha dinheiro e o hábito de engajamento refinado com as artes.
No decorrer do tempo, ele passou a consumir cultura, todavia limitou-se apenas a leitura e a musica, porém continuou cativo a filmes de televisão,  habito que o acompanha desde menino.
Não teve irmão e amigos na infância. Era só ele e a mãe. A única irmã que tinha só veio para o seu convívio por volta dos quinze anos. Morou grande parte da infância no bairro de Lagoa Seca, na Rua São João, que ele por sinal, anonimamente, visita até hoje.
Lagoa Seca é o seu rosebud, nenhuma outra palavra lhe faz sombra e ele confidenciou a ela, apenas a ela, que dita fase da sua vida lhe impôs o que ele é hoje. Nenhuma pessoa intimamente ligada a ele, nem sequer a sua família, tem a mais remota idéia do que Lagoa Seca lhe significa, pois para eles não passa de um bairro e nunca ouviram ele pronunciar tais palavras
Lagoa Seca, além do bairro em que morou, significa  algo que ele perdeu e é esta a razão que o faz passar sempre por lá, ponto central da sua nostalgia pela única época de pureza da vida.
Das pessoas que conheceu, nenhuma lhe restou e os que ainda persistem, podem ser tudo, menos amigos.
Apesar da espiritualidade a flor da pele, não freqüenta igrejas e acredita ter feito um pacto com a mais potente força que existe na natureza que é o Grande Arquiteto do Universo.
Após o relato, a Neófita ficou sem entender porque ele confidenciou apenas a ela, todo o relato sobre sua infância e ele, já incomodado com a sua  curiosidade,  lhe respondeu: Os olhos dela eram mais bonitos que os olhos do imperador Nicolau da Rússia que, apesar de belos os tinha sem vida; Os olhos dela eram mais bonitos que os olhos do imame Chamil, mulçumano do Cáucaso que os tinha pequenos e constantemente entrecerrados num rosto de pedra e Os olhos dela eram mais bonitos  que os olhos do cavalo de Khadji-Murát, conquistador do Cáucaso que eram extraordinariamente magníficos, como cabe aos cavalos dos grandes heróis épicos.