domingo, 8 de setembro de 2019

CAFARNANUM



 CAFARNAUM



Cafarnaum não é apenas uma cidade citada na lenda bíblica, no qual grande parte da humanidade acredita que o Nazareno tenha pregado. Cafarnaum também é um filme, maldito, onde a miséria e a desordem estão na ordem do dia. Em suma, uma fauda, o caos da pobreza, o tormento dos desesperados, uma odé aos marginalizados.

A diretora Nadine Labaki acertou a mão. Como Hecto Babenco, olhou para quem estava além do meio fio da vida e enfrentou a desigualdade social extrema, ao ambientar nos arredores de Beirute o calvário de Zain, que após sofrer durante anos abusos em casa, passar muita fome, ser obrigado a morar na rua e ir parar na cadeia por ter esfaqueado uma pessoa, resolve processar os pais por apenas ter nascido.

Zain nasceu para o não, Não presta. Não vive, Não é gente. É o retrato do indesejável, é tudo do que se espera de um marginal, de um bandido.  Nascer assim é cruel, sendo apenas mais um, sem afeto, sem nada. Zain, com apenas 12 anos é Cafarnaum. 

Cafarnaum acumulou indicações mundo a fora, mas não levou os principais prêmios. Um roteiro maldito inspirado na realidade, na miséria, finda levando no máximo prêmios menos importantes, como o do Juri de Canes. 

A propósito, registra-se: tudo que incomoda não passa da calçada, não chega na cobertura. É o caso da obra prima coreana Oldboy que retratou, em um ambiente besterol e com maestria, o supra-sumo do incesto e teve que se contentar com o Grand Prix de Canes. Não passou da calçada.