quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Eu sou um livro aberto sem história....


                   Aquele foi o primeiro e único amor do moço velho, tanto que ele não conseguiu sentir algo por mais ninguém no mesmo calibre, na mesma intensidade e findou passando o resto da vida em função desta ausência, pois não teve mais tempo para aprender outros prazeres, outros interesses, outra vida.
                   Ela, por sua vez, sentia por aquele bandido, apenas certa simpatia e uma leve atração que se misturavam a outros sentimentos que sobravam lá pelas beirada da alma.
                   O que ele pensava que era amor, ficou por uns tempos preservado em sua essência, tanto que dito sentimento sobreviveu a tudo, as pressões, as resistências, aos argumentos, ao fim, a partida, as razões, as conseqüências, aos fatos, mas não teve força para sobreviver a indiferença,  ao desinteresse e a distância.
                   Quando o amor deixa de existir, tudo que ele designa como os objetos, costumes, palavras, cheiros, sensações, lembranças, afetos vão para o limbo e se acaba. Junto com o principal, todo o entorno se evapora como se não tivesse existido.
                   Com o tempo, o moço velho passou a freqüentar apenas um café e as pessoas do local diziam que ele era rabugento, pois não falava com ninguém, ignorava o mundo e tudo o aborrecia. Ele passava horas sentando a mesa e tinha o hábito de escrever em sua Moleskine. Parecia perdido, estranho. Em uma manhã de maio, sol escaldante, ele freqüentou o café como de costume e, quando partiu, nunca mais foi visto.
                   Alguém, por certo, vendo a mesa vazia deve ter notado a ausência e concluído “pode ter sido uma escolha”.

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