SÓ ANDO SOZINHO
Eu poderia
gastar um longo tempo descrevendo todos os sentimentos bons que vieram ao espírito
quando falei para poucos, de uma fábula de Schopenhauer sobre porcos espinhos que perambulavam em um dia
frio de inverno.
Para não
congelar, os animais chegavam mais perto uns dos outros, porém no momento em
que ficavam suficientemente próximos para se aquecerem começavam a se espetar
com os próprios espinhos. Para fazer cessar a dor, dispersavam-se e perdiam o
benefício do convívio próximo e recomeçavam a tremer de frio e o ciclo se
repetia, numa infindável luta para descobrirem uma distância confortável entre
o frio do afastamento e a dor da união. Se a fábula fosse sobre pessoas, seria
a busca de uma distância entre o envolvimento doloroso e o isolamento sem amor.
No início do
isolamento, ainda com a alma enriquecida pelos reflexos da companhia e da
amizade perdida, pedi a natureza que não me privasse da graça de algumas
lembranças que era e é a única forma de ter algo importante, em qualquer
circunstância, onde estiver, por perto.
Se as lembranças
pudessem ver o brilho dos meus olhos e sentir a emoção em meu coração não teria
nenhuma dúvida da felicidade imensa que tive enquanto escrevia estas poucas
palavras.
Aliás !! Escrever,
sem saber, é o que me resta, é quando consigo sair um pouco da condição de antiprotagonista,
de figura do insucesso, da improdutividade e do apagamento em si.
No resto do
tempo, não passo de um escritor que não escreve. Do músico que não compõe. Anônimo e ambicioso. Ingênuo e lúcido. Frustrado e realizado na
insignificância, tanto que quando me aproximo de algo sinto dor igual aos
porcos da fábula.
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