sábado, 9 de setembro de 2017

De passagem



SÓ ANDO SOZINHO

Eu poderia gastar um longo tempo descrevendo todos os sentimentos bons que vieram ao espírito quando falei para poucos, de uma fábula de Schopenhauer sobre  porcos espinhos que perambulavam em um dia frio de inverno.

Para não congelar, os animais chegavam mais perto uns dos outros, porém no momento em que ficavam suficientemente próximos para se aquecerem começavam a se espetar com os próprios espinhos. Para fazer cessar a dor, dispersavam-se e perdiam o benefício do convívio próximo e recomeçavam a tremer de frio e o ciclo se repetia, numa infindável luta para descobrirem uma distância confortável entre o frio do afastamento e a dor da união. Se a fábula fosse sobre pessoas, seria a busca de uma distância entre o envolvimento doloroso e o isolamento sem amor.

No início do isolamento, ainda com a alma enriquecida pelos reflexos da companhia e da amizade perdida, pedi a natureza que não me privasse da graça de algumas lembranças que era e é a única forma de ter algo importante, em qualquer circunstância, onde estiver, por perto.

Se as lembranças pudessem ver o brilho dos meus olhos e sentir a emoção em meu coração não teria nenhuma dúvida da felicidade imensa que tive enquanto escrevia estas poucas palavras.

Aliás !! Escrever, sem saber, é o que me resta, é quando consigo sair um pouco da condição de antiprotagonista, de figura do insucesso, da improdutividade e do apagamento em si.

No resto do tempo, não passo de um escritor que não escreve. Do músico que não compõe. Anônimo e ambicioso. Ingênuo e lúcido. Frustrado e realizado na insignificância, tanto que quando me aproximo de algo sinto dor igual aos porcos da fábula.   

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