terça-feira, 27 de setembro de 2011


A NEÓFITA

Ele sempre viveu bem. Não teve maiores problemas, a verdade é essa. Mas, cometeu um pecado grave e mortal, valorizou muito a única coisa que deu errado em sua vida. Ele pensou que existia amor em sua cúmplice, o que nunca existiu. Se alguém ouvisse ele falando de como ela foi embora, pensava logo que ele era o homem mais sofrido do mundo e que tinha uma espécie de apego à dor, e que a capacidade de suportá-la até o infinito não passava na verdade de uma espécie de tirania.

Ele tinha um prazer masoquista em repisar aquela ferida, contando e recontando os mínimos detalhes de sua triste história e começava dizendo que o mundo tinha desabado no dia em que, sem mais nem menos, ela lhe telefonou dizendo que não a procurasse mais. Na ocasião, ela foi polida o suficiente para omitir que já estava com outro e que deixou a entender que ele não era o ar que respirava.

Quando ela foi embora, ele se entregou ao seu calvário. Para começar, se sentiu envergonhado. Mas isso era só uma faceta da grande dor que sentia. O pior era ter saudade, que por sinal era tão grande que ele vivia dizendo, em seu imaginário, que era como se ela estivesse ali ao seu lado. Conversava com a saudade e com ela dividia o prazer em apreciar as valsas de Strauss e as sonatas de Chopin, tocadas por Arthur Rubinstein.

Carregou consigo, por muito tempo, como um manto, o luto pela separação. Um luto sem morte, talvez pior, porque a morte é uma dor acabada, uma dor limpa. Viveu em seu calvário por mais algum tempo até o aparecimento da neófita que tinha sido anunciada pelo ATHERZATA na última quinta-feira santa.

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